O Brasil é uma das principais fontes do contrabando de fauna: mais de 12 milhões de animais são tirados do país a cada ano. O tráfico de animais silvestres, um negócio mundial de US$ 20 biliões por ano, na América já não é preocupação apenas de alguns países. Uma rede de informação e cooperação contra o comércio ilegal de animais e plantas está a ser implantada na América do Sul, onde a alta biodiversidade atrai os traficantes de espécies. A estratégia, que, espera-se, possa frear um negócio que tem vínculos com o narcotráfico, foi decidida na primeira Conferência Sul-Americana sobre o Comércio Ilegal da Fauna Silvestre, que reuniu em Brasília, no mês passado, 150 especialistas e autoridades. A Conferência, organizada pela organização brasileira Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), também teve apoio do Departamento de Estado dos Estados Unidos. A participação de Washington deu-se por uma preocupação adicional com a associação entre os traficantes de fauna e os de drogas. Entre 30% e 40% das 350 ou 400 quadrilhas, que no Brasil praticam o contrabando de animais, mantém ligações com o narcotráfico, assegurou ao Terramérica o coordenador da Renctas e da Conferência, Dener Giovanini. A rede sul-americana será coordenada pela Renctas, e o modelo será utilizado pelos demais países. Assim, haverá redes nacionais de organizações não-governamentais, autoridades ambientais e policiais, empresas e pessoas interessadas no problema. As actividades conjuntas previstas são a habilitação de um banco de dados com listas de traficantes de todos os países, campanhas de educação ambiental e intercâmbio de informações. O Traffic, do Equador, um projeto apoiado por ONGs internacionais, apoiará a Renctas na formação de uma rede subcontinental e na sua implantação. O tráfico de animais prospera diante da tolerância social e segue a lógica implacável do mercado. As espécies mais escassas obtêm os melhores preços e são, portanto, as mais caçadas, aumentando seu risco de extinção. É o que acontece com a arara azul, uma das aves brasileiras mais ameaçadas, que custa até US$ 60 mil na Europa, América do Norte e Ásia, as regiões de maior demanda. O tráfico também é depredador e contribui para a escassez, já que apenas um em cada dez animais retirados de seu meio natural chega vivo ao comprador final. Poucas pessoas consideram um crime adquirir belos pássaros e macacos, tirados de seu habitat em países distantes, e mantê-los em cativeiro num zoológico particular é um desejo de muitos. Assim, o contrabando goza de certa impunidade. Como no caso do narcotráfico, os principais fornecedores são países em desenvolvimento e a demanda concentra-se nos países industrializados. É necessário que os países ricos reduzam “o consumo insustentável da fauna exótica”, do mesmo modo que fazem falta alternativas económicas para as comunidades pobres que capturam animais como meio de sobrevivência, afirma o ministro do Meio Ambiente do Brasil, José Sarney Filho. O Brasil é uma das principais fontes do contrabando de fauna, com 15% a 20% do total mundial, calcula Giovanini. Mais de 12 milhões de animais são tirados a cada ano desse país. Essa sangria agrava o risco de extinção que pesa sobre 208 espécies, alerta José Sarney. O mercado internacional é estimulado por pessoas que procuram exemplares raros, mas também inclui a indústria farmacêutica, que compra espécies venenosas, como aranhas e serpentes. Trata-se da chamada biopirataria, que paga centavos de dólar por animal nos países pobres e alimenta a lucrativa produção de medicamentos. Além da demanda de animais vivos, existe um grande comércio de couro, penas, órgãos e outras partes, o que também atenta contra a biodiversidade, diz Giovanini. Um quadro de asas de borboletas pode custar US$ 3 mil na China, por exemplo. O mercado interno também é muito activo. Feiras ilegais acontecem com regularidade nas cidades brasileiras. O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) aumentou a repressão este ano, mas os seus inspectores em São Paulo reconhecem sua impotência. Nem mesmo dispõem de locais para abrigar a quantidade de animais que podem recuperar em uma única operação. Uma alternativa contra o tráfico é a criação de animais, negócio que promete altos lucros. Um tucano pode render até US$ 7 mil nos Estados Unidos, afirma o zootécnico Gilberto Schickler, que elabora e participa de projetos de manejo de aves em cativeiro, regulamentados pelo Ibama. As aves de maior demanda mundial são os psitácidos, isto é, os papagaios e araras, disse Schickler ao Terramérica. Ele também aguarda a ampliação do mercado de pássaros canoros, numerosos no Brasil. Um curió, com seu som de violino, pode ter custo igual ao de um automóvel zero quilómetro, acrescentou. A reprodução de pássaros ornamentais e canoros já é uma realidade nos Estados Unidos e na Europa, inclusive a partir de fêmeas adquiridas de contrabando. Porém, os países de origem têm vantagens, como o meio ambiente e os alimentos naturais, explica Schickler. |
http://www.tierramerica.net/2001/0805/particulo.shtml
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